Se folhearmos os livros antigos, muito encontraremos
sobre um animal chamado cocutuá. Embora seja muito pobre o tipo de informação
que só pode ser lida em páginas velhas e amareladas, existem muitas descrições
distintas sobre ele. Nenhuma pode ser considerada prova definitiva de sua
existência, onde cada escritor o percebeu de maneira diferente. Hoje é difícil
encontrar algum livro que exponha algo novo e relevante sobre tal criatura.
Antes de o mundo ser assim chamado, em um momento em que o homem ainda não considerava exercer soberania sobre outros animais, havia uma tribo que morava em uma aldeia na beira de um rio, próximo a
uma mata fechada. No fim de uma tarde de um dia de verão um grupo de caçadores regressou
trazendo notícias sobre marcas de garras nas paredes de uma caverna, e pegadas estranhas,
que pareciam ser de cocutuá.
Depois de uma breve discussão,
concluiu-se que seria útil ir atrás do animal, caçando-o para aproveitar sua
carne, pele, e presas, sem ao menos saber se em seu corpo encontrariam carne,
pele e presas. O grupo partiu no dia seguinte, e na obsessão pela busca entraram
em lugares ainda desconhecidos, onde se perderam, dividindo-se. Em três dias o primeiro
grupo voltou para a aldeia, e dois dias depois o outro encontrou o caminho de
volta. Este último trazia notícias de que foram salvos pelo cocutuá, e embora
não tenham visto o animal, acreditavam que a série de fatores que os colocou no
caminho para a aldeia foi um plano feito pela criatura. Os que voltaram para
casa sem ver nada de extraordinário começaram a suspeitar que as ranhuras e
pegadas encontradas pudessem ser de algum destes felinos gigantes que habitavam
a região.
A aldeia ficou dividida em vários
grupos, onde havia os que cultuavam a criatura organizando a criação de
templos, dias especiais para homenageá-la, e agradecimentos constantes pela
salvação. Os que não acreditavam viver algum cocutuá na região tentavam provar
que as ranhuras da caverna e as pegadas não eram deste, mas sim, de algum outro
animal, e viam como um desperdício a construção de templos, onde o material poderia
ser utilizado para outros fins. Alguns acreditavam que o animal não era único,
mas sim, diversos cocutuás a habitar a região, cada um lidando de uma maneira distinta
diante a presença da aldeia, e assim eles deveriam ser cultuados de maneiras
diferentes, enquanto alguns acreditavam em sua presença, mas não em sua
importância para a tribo, e uma pequena parcela dizia não haver conhecimento
algum sobre tal criatura.
Na medida em que a tribo cresceu, as
discussões sobre o animal ficaram aos poucos mais fervorosas na aldeia, e conseqüentemente
aconteceu o primeiro assassinato devido a discordâncias sobre a criatura. O que
veio a seguir foi aos poucos destruindo a tribo, onde muitos matavam em nome do
cocutuá, e outros para não crescer a idéia de sua presença na região. Todos que
morriam, encontravam o fim defendendo suas idéias. Com isso, aqueles que faziam
seus cultos migraram para além das florestas tentando encontrá-lo, e lá
formando uma nova aldeia. Uma minoria atravessou o rio, não querendo participar
do que ficou conhecida como “Guerra do Cocutuá”, que começou quando os céticos
quanto à presença do animal, na tentativa de apagar as marcas de garras na
parede da caverna foram surpreendidos por alguns moradores da aldeia além da
floresta que surgiram atacando com lanças. Logo tropas foram enviadas para
encontrar a outra aldeia, e muitas batalhas foram travadas.
Com sangue derramado, aldeias
incendiadas, e plantações destruídas, não demorou muito para as duas aldeias
entrarem em ruína. O povo da tribo, que antes era unido e dependiam um do
outro, agora passava fome. Não havia recursos, e não era mais possível garantir
a sobrevivência. Nunca houve um vencedor em nenhum dos lados. A guerra nunca
terminou por que as duas aldeias se extinguiram antes de alguém se render. Os
que atravessaram o rio assistiram tudo sem fazer nada, e foram estes os únicos
sobreviventes. Desta forma, decidiram que deveriam conservar a história,
passando-a adiante nas gerações que seguiram, com o intuito de não repeti-la.
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