domingo, 17 de junho de 2012

A Guerra do Cocutuá


Se folhearmos os livros antigos, muito encontraremos sobre um animal chamado cocutuá. Embora seja muito pobre o tipo de informação que só pode ser lida em páginas velhas e amareladas, existem muitas descrições distintas sobre ele. Nenhuma pode ser considerada prova definitiva de sua existência, onde cada escritor o percebeu de maneira diferente. Hoje é difícil encontrar algum livro que exponha algo novo e relevante sobre tal criatura.

            Antes de o mundo ser assim chamado, em um momento em que o homem ainda não considerava exercer soberania sobre outros animais, havia uma tribo que morava em uma aldeia na beira de um rio, próximo a uma mata fechada. No fim de uma tarde de um dia de verão um grupo de caçadores regressou trazendo notícias sobre marcas de garras nas paredes de uma caverna, e pegadas estranhas, que pareciam ser de cocutuá.

            Depois de uma breve discussão, concluiu-se que seria útil ir atrás do animal, caçando-o para aproveitar sua carne, pele, e presas, sem ao menos saber se em seu corpo encontrariam carne, pele e presas. O grupo partiu no dia seguinte, e na obsessão pela busca entraram em lugares ainda desconhecidos, onde se perderam, dividindo-se. Em três dias o primeiro grupo voltou para a aldeia, e dois dias depois o outro encontrou o caminho de volta. Este último trazia notícias de que foram salvos pelo cocutuá, e embora não tenham visto o animal, acreditavam que a série de fatores que os colocou no caminho para a aldeia foi um plano feito pela criatura. Os que voltaram para casa sem ver nada de extraordinário começaram a suspeitar que as ranhuras e pegadas encontradas pudessem ser de algum destes felinos gigantes que habitavam a região.

            A aldeia ficou dividida em vários grupos, onde havia os que cultuavam a criatura organizando a criação de templos, dias especiais para homenageá-la, e agradecimentos constantes pela salvação. Os que não acreditavam viver algum cocutuá na região tentavam provar que as ranhuras da caverna e as pegadas não eram deste, mas sim, de algum outro animal, e viam como um desperdício a construção de templos, onde o material poderia ser utilizado para outros fins. Alguns acreditavam que o animal não era único, mas sim, diversos cocutuás a habitar a região, cada um lidando de uma maneira distinta diante a presença da aldeia, e assim eles deveriam ser cultuados de maneiras diferentes, enquanto alguns acreditavam em sua presença, mas não em sua importância para a tribo, e uma pequena parcela dizia não haver conhecimento algum sobre tal criatura.

            Na medida em que a tribo cresceu, as discussões sobre o animal ficaram aos poucos mais fervorosas na aldeia, e conseqüentemente aconteceu o primeiro assassinato devido a discordâncias sobre a criatura. O que veio a seguir foi aos poucos destruindo a tribo, onde muitos matavam em nome do cocutuá, e outros para não crescer a idéia de sua presença na região. Todos que morriam, encontravam o fim defendendo suas idéias. Com isso, aqueles que faziam seus cultos migraram para além das florestas tentando encontrá-lo, e lá formando uma nova aldeia. Uma minoria atravessou o rio, não querendo participar do que ficou conhecida como “Guerra do Cocutuá”, que começou quando os céticos quanto à presença do animal, na tentativa de apagar as marcas de garras na parede da caverna foram surpreendidos por alguns moradores da aldeia além da floresta que surgiram atacando com lanças. Logo tropas foram enviadas para encontrar a outra aldeia, e muitas batalhas foram travadas.

            Com sangue derramado, aldeias incendiadas, e plantações destruídas, não demorou muito para as duas aldeias entrarem em ruína. O povo da tribo, que antes era unido e dependiam um do outro, agora passava fome. Não havia recursos, e não era mais possível garantir a sobrevivência. Nunca houve um vencedor em nenhum dos lados. A guerra nunca terminou por que as duas aldeias se extinguiram antes de alguém se render. Os que atravessaram o rio assistiram tudo sem fazer nada, e foram estes os únicos sobreviventes. Desta forma, decidiram que deveriam conservar a história, passando-a adiante nas gerações que seguiram, com o intuito de não repeti-la.

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